Quantas vezes nos últimos dias, ao ser questionado por alguém ou
ficar em dúvida sobre um determinado assunto, você abriu o navegador e
pesquisou a resposta no Google? Se você se reconheceu na situação
anterior, saiba que faz parte de um grupo predominante de usuários que
se acostumaram a procurar todo e qualquer tipo de informação na web,
antes mesmo de pensar ou refletir sobre o assunto em questão.
Mas quais as razões que levam os usuários a abrirem mão de pensarem
por si próprios para confiar nas respostas prontas e nem sempre precisas
disponíveis na web? Será que em tempos de multitarefa não estamos nos
tornando mais generalistas e menos eficientes nos trabalhos que fazemos?
Afinal, com mais informação estamos evoluindo ou regredindo?
Google: o oráculo
Para acessar uma determinada página na web você deve digitar a URL do
endereço no navegador, certo? No entanto, para muitos usuários, parece
mais fácil manter o Google como página inicial e digitar no campo de
busca o nome do site desejado e, a partir dos resultados, acessá-lo.
Poupar o trabalho de digitar alguns caracteres, em tese, pode
significar a economia de alguns segundos. Mas apenas em tese, já que no
final das contas, ao criar um intermediário no processo, o tempo de
busca e carregamento da página acabará sendo o mesmo, se não for maior.
O mesmo acontece com o nosso cérebro ao nos condicionarmos a depender
de um determinado serviço para buscar por informações. Segundo estudos
realizados em universidades norte-americanas, o ser humano busca sempre a
adaptação à situação mais comum ou que lhe parece mais agradável.
Lembra-se daquelas pessoas com conhecimento enciclopédico, que sabiam
de memória as capitais de todos os países? Elas são cada vez mais raras
e hoje, na prática, qualquer um pode saber em questão de segundos essa
informação, bastando para isso abrir uma página do navegador.
Mais informação significa mais conhecimento. Será mesmo?
Partindo desse princípio poderíamos chegar à conclusão de que quem
tem acesso a mais informação também carrega mais conhecimento, certo? No
entanto, nos esquecemos de que apenas ter acesso a um volume
incontrolável de informações não quer dizer, necessariamente, ter maior
capacidade de raciocínio ou de tomar decisões.
Vamos tomar como exemplo um executivo que trabalhe o dia todo diante
de um computador. Além de um PC em sua sala, que pode ter uma ou duas
telas, ele provavelmente também tem um notebook. Além disso, carrega
consigo um smartphone. Tudo integrado e sincronizado, permitindo que ele
acesse informações a partir de qualquer lugar.
Será mesmo que o fato de esse executivo ser multitarefa, respondendo
emails, checando as cotações do dólar e ainda falando com sua esposa ao
telefone ao mesmo tempo faz dele um profissional mais competente do que
aquele que faz uma tarefa por vez, mas com mais foco e concentração?
Provavelmente não.
Pesquisadores já comprovaram que, diferente dos sistemas
operacionais, os seres humanos não são multitarefa. Mesmo quando você
está fazendo duas atividades ao mesmo tempo, seu cérebro está focado
predominantemente em uma delas, reduzindo a atenção daquela que julgar
menos importante.
É como dirigir e falar ao celular ao mesmo tempo. Enquanto faz isso
você pode até ter a sensação de estar ganhando tempo. No entanto, no
final das contas, você dispenderá o mesmo tempo ou até mais em função de
possíveis correções ou mesmo compensações pelos momentos em que você
prestou menos atenção em algo do que deveria.
140 caracteres de paciência. Está bom para você?
Como você fez a leitura deste texto até aqui? Se você chegou neste
parágrafo lendo todos os outros 11 anteriores, você faz parte de uma
minoria que se concentra em um texto que julga interessante e o lê do
começo ao fim. Grande parte dos usuários da web analisa apenas o título e
os subtítulos, se aprofundando na leitura apenas quando julgam a
informação muito relevante.
O fenômeno de “menos leitura e mais informação” pode ser explicado,
em parte, pela grande quantidade de informação que chega até nós todos
os dias. Se você é usuário do Twitter, por exemplo, e segue pelo menos
uma centena de amigos, recebe em média de 80 a 100 links por hora,
excetuando-se os posts que são apenas comentários.
É natural que, em meio a tantas opções, pelo menos um deles chame
mais a sua atenção e você clique nele e se distraia do trabalho. Some ao
Twitter seus emails, mensagens em redes sociais, SMS e chamadas pelo
celular e o resultado é um verdadeiro maremoto de informações diante dos
seus olhos, tudo isso enquanto você deveria apenas estar lendo um texto
ou redigindo um email.
Na década de 60, quando a televisão começava a se popularizar nos
Estados Unidos, os usuários mais “viciados” chegavam a passar em média 5
horas por dia diante da tela. Hoje, segundo pesquisas realizadas por
lá, é comum encontrar usuários que passam em média 12 horas diante da TV
ou do computador.
O pecado capital: preguiça
A grande quantidade de informações disponíveis e a certeza de que
elas estarão ali sempre que você precisar faz também com que muita gente
tenha preguiça até mesmo de procurar por uma resposta. Experimente
entrar em uma comunidade qualquer do Orkut ou mesmo dar uma rápida
olhada em sua timeline do Twitter.
Certamente lá você vai encontrar alguém fazendo alguma pergunta
simples do tipo “onde é que eu encontro isso?” ou “como se escreve uma
determinada palavra?". A resposta para essa pergunta, muitas vezes, pode
ser facilmente encontrada com uma simples pesquisa na internet - ou com
um pouquinho de reflexão para deduzir do que se trata -, mas ainda
assim muitos acham mais cômodo perguntar antes mesmo de tentar encontrar
a solução.
Fatos como esse são tão frequentes que até um serviço curioso foi criado em função disso. Trata-se do
Let me Google that for you
– ou, numa tradução direta, “Deixe-me buscar no Google por você”. Basta
digitar um termo de busca para que o serviço retorne um link. Ao
receber o link o usuário verá uma tela que simula o que ele poderia ter
feito – digitado o termo no Google e aguardado pela resposta.
Afinal, a tecnologia está nos deixando menos inteligentes e mais preguiçosos?
Não se pode apontar a tecnologia como a única culpada nessa história.
Se não fosse por ela, muito do que existe nos dias de hoje ainda seria
impossível e provavelmente o seu trabalho demoraria o dobro do tempo. A
questão que deve ser analisada é a maneira como nos relacionamos com
ela.
De que adianta ter cinco ou seis
gadgets conectados em tempo
integral à internet se a sua capacidade de concentração permite que
você apenas se dedique, satisfatoriamente, a uma tarefa de cada vez?
Talvez o seu maior desafio seja lutar contra o comodismo e às
facilidades que a internet proporciona, em prol do seu desenvolvimento
intelectual.
Que tal da próxima vez que você tiver uma dúvida simples, de como se
escreve uma determinada palavra ou como passar de uma determinada fase
em jogo você pensar um pouco mais sobre o assunto antes de digitar o
termo na caixa de pesquisa de um site de buscas?
Tentativa e erro são características importantes para o aprendizado
de qualquer pessoa, mas com a agilidade proporcionada pela web, muitos
usuários sequer tem a consciência de que são capazes, por si próprios,
de encontrar respostas para muitas dúvidas cotidianas. Será que da
próxima vez você vai conseguir resistir à tentação?