Não
sei dizer se são todos, mas acredito que todo nerd tenha uma ligação
forte com os livros. Eu mesmo lia muito mais romances do que quadrinhos
em si na infância, sendo exceções os da Turma da Mônica. Li os da série Vaga-Lume,
infantis, contos macabros (era uma criança precoce), mitologia grega,
entre outros, que o tempo e a memória não me deixam lembrar.
Na adolescência, passei a ler literatura clássica por influência da escola e da família. Conheci algumas das melhores obras literárias que já tive o prazer de ler, como Matadouro 5, Apanhador no Campo de Centeio, livros de Stephen King
e alguns dos livros nerds que falarei neste post. Na época eu só
conseguia ler os livros que encontrava em bibliotecas ou emprestado por
amigos, já que me faltava verba para comprá-los, e eu nunca gostei muito
de ler livros inteiros na internet.
Li sem nem saber que se tratava de
livros célebres entre os nerds, até porque naquela época nerd ainda era
sinônimo de usar óculos, tirar nota boa e apanhar dos valentões na
escola, quase como eu era (excluindo a parte de apanhar, óbvio). Próximo
da vida adulta, li uma das obras mais referenciadas pelos nerds, O Senhor dos Anéis,
e consegui comprar ouros livros que li quando mais jovem. Mas ainda
falta muito para mim, creio. Ainda não leio várias obras de Tolkien, não
li tudo de Neil Gaiman e não vi todo o movimento cyberpunk. Mas dentre
os que eu li, separo os que considero essenciais para todos os que batem
no peito para dizer que são nerds. Só espero não haver me esquecido de
nenhum.
O Senhor dos Anéis
O Senhor dos Anéis escreveu seu nome na história como uma das obras mais cultuadas do mundo, sendo uma seqüência do livro O Hobbit.
Pensado para ser em volume único, ganhou fama dividido em três para
manter o baixo custo dos livros. O autor, J. R. R. Tolkien, fez com sua
trilogia o que James Cameron tentou sem sucesso fazer com Avatar.
Criou um mundo vasto, com geografia e línguas próprias, que são
estudadas com afinco por seus fãs. A obra marcou profundamente outras
obras de fantasia lançadas com o decorrer das décadas e inspira peças de
teatro, filmes, fotografias, pinturas e games até os dias atuais.
O Senhor dos Anéis
gerou ainda mais interesse e criou novos fãs graças aos filmes feitos
por Peter Jackson; e não escondo que foi por ali que eu conheci a obra
do escritor britânico. Não quero me deter aqui sobre a história, porque
vocês já devem conhecê-la, mas os livros têm algumas diferenças
importantes. A leitura não agrada a todos, já vi muita gente reclamar
dela. A escrita de Tolkien me lembrou um pouco a de Machado de Assis,
embora a comparação possa parecer não fazer sentido à primeira vista. A
forma como apresenta seu mundo e as criaturas que o habitam, num
crescente de qualidade narrativa a cada página, cria um clima de
fascinação, principalmente nos fãs de fantasia medieval.
As pessoas que não leram O Hobbit conseguem compreender o enredo de O Senhor dos Anéis, mas aconselho ler a história do Bilbo Bolseiro antes. E depois procurar Silmarillion, que é mais ou menos como uma Bíblia do mundo que Tolkien criou.
Douglas Adams escreveu inicialmente O Guia do Mochileiro das Galáxias
como uma sitcom, mas nenhum canal topou produzir a sua série. Os
roteiros acabaram indo para uma rádio local de Londres, sendo
transmitido como as antigas rádionovelas e fez tanto sucesso que se
tornou uma coleção de fitas cassete. Só depois se tornou a coleção de
livros que conhecemos hoje.
Arthur Dent é um sujeito normal, que
descobre que seu amigo Ford Prefect é um mochileiro alienígena, que sabe
de um plano sobre a demolição da Terra para a construção de uma rodovia
interestelar.
As tiradas inteligentes conseguem
agradar até mesmo ao público não-nerd, mas é claramente voltado aos
nerds, tantas são as referências à ele que vemos por aí. O dia da
toalha, a frase “NÃO ENTRE EM PÂNICO!”, entre outros.
Como surgiu como uma sitcom, o Guia
satiriza a política, a burocracia e a forma de vida inglesa, tendo como
pano de fundo diferentes planetas. Também faz reflexões sobre os
motivos de nossa existência. O Guia do Mochileiro das Galáxias,
de Douglas Adams, faz muito mais que um simples livro de ficção
científica. Ele conseguiu nos fazer rir e, principalmente, valorizar o
que realmente importa na vida.
Neuromancer é o melhor livro do cyberpunk, movimento que já falei sobre AQUI.
Nenhum escritor conseguiu lançar um livro que o superasse, nem mesmo
seu autor William Gibson. Tornou-se um divisor de águas. A ficção
científica era criticada pelos cyberpunks, que afirmavam que ela estava
presa a regras do passado. Neuromancer tentava
romper isso, romper barreiras, transpor os limites de gênero. Sua
influência se faz sentir até hoje, como por exemplo na trilogia Matrix.
Vou escrever brevemente sobre o enredo. O
protagonista Case, é criminoso cyberespacial. Mas, quando tenta roubar
seus patrões, é punido de uma forma que o impede de entrar na Matrix de
novo… até ser contratado para o roubo da inteligência artificial
Neuromancer e poder entrar na rede novamente. Para isso, se une a um
grupo de pessoas com habilidades únicas para realizar o serviço. O clima
de mistério noir garante que nada seja o que pensamos no
princípio com a adição da tecnologia, que a qualquer momento pode tomar o
controle sobre as nossas vidas.
Eu poderia falar mais sobre Neuromancer, mas eu já escrevi um texto mais completo AQUI.
Eu nem precisava falar muito sobre esse
livro aqui. Afinal, Neil Gaiman é Neil Gaiman e esse livro já foi até
indicado pelos caras do Pipoca e Nanquim. Também porque chega a ser chato só falar de um quando ele tem vários livros fodas por aí, como Lugar Nenhum e Coisas Frágeis. Mas é quase obrigação citar uma obra do cara aqui.
No livro vemos a batalha dos antigos
deuses contra as encarnações dos deuses modernos, nada mais que os
ídolos das gerações atuais e influenciadores do comportamento, como a
mídia, cartões de crédito e a internet. Em vez de mostrar os deuses em
toda a sua glória, Gaiman demonstra como eles forma caindo no
esquecimento e perdendo seus poderes, morrendo de formas tolas para uma
divindade.
Neil Gaiman demonstra o mesmo estilo narrativo que o deixou célebre com Sandman,
até hoje sua obra mais famosa e obrigatória para fãs de quadrinhos. Ele
não se limita a uma só mitologia. Explora a nórdica, egípcia, duendes,
entre outras. Uma das vantagens de Gaiman, que pra você pode ser um
defeito, é que ele não se preocupa em explicar todas as questões,
algumas coisas ficam subentendidas e outras para a imaginação do leitor.
Mas diferente dos autores de Lost, ele sabe
muito bem o que quer da sua história desde que começa a escrevê-la. A
linguagem cheia de referências faz você querer pesquisar mais sobre os
temas, o que é ótimo pois faz com que o livro vá muito além da leitura.
Deuses Americanos
deve ser só o seu primeiro dos romances do Gaiman caso goste de um bom
livro. Vale muito a pena. Só que o livro atualmente se encontra esgotado
no Brasil, só sendo encontrado em sebos.
Discworld
é uma série de livros do escritor britânico Terry Pratchett, que
parodia todos os clichês dos livros de fantasia, com uma grande dose de
humor negro. A associação com a obra de J. R. R. Tolkien se faz óbvia,
mas isso dá porque a obra do criador da Terra-Média influencia a
fantasia até hoje. A série é enorme e sucesso absoluto na Inglaterra,
estando há anos na lista dos mais vendidos. Com o sucesso, a obra migrou
para os quadrinhos, games, animações, RPGs, entre outras formas de
mídia e o faz ganhar vários prêmios literários, ser traduzido para mais
de trinta línguas e vender mais de 40 milhões de exemplares. Embora seu
sucesso seja grande, ele é um pouco obscuro no Brasil. Poucas pessoas
conhecem a obra dele por aqui.
O mundo da série de Discworld
se passa num mundo em forma de disco sustentado por quatro elefantes
apoiados no casco de uma tartaruga que vaga pelo espaço. Ricewind é um
mago que foi expulso da escola de magos só tendo aprendido um único
feitiço e que parte em uma jornada por toda a Discworld, junto com
DuasFlor, que decide se juntar com ele. Durante o caminho eles
encontrarão os tipos de personagens que sempre marcam presença nos
livros de fantasia, como anões, trolls e elfos.
Para os fãs de fantasia medieval que não se incomodam de vê-la satirizada, Discworld é uma boa dica.
Não podia terminar este post sem falar de pelo menos um livro brasileiro. A Batalha do Apocalipse foi lançado pelo selo Nerd Books, pertencente ao site Jovem Nerd, que acredito que seja conhecido de todos aqui. Houve todo um hype
em volta deste lançamento. Que o livro era foda, que era muito bom, mas
o livro me pareceu caro demais e o fato da maioria das tentativas de se
escrever um épico brasileiro não terem conseguido êxito pesou um pouco.
Conforme fui lendo elogios e mais elogios sobre a obra de Eduardo Spohr
decidi comprar. E pra minha surpresa gostei bastante do livro.
Eduardo Spohr tem uma narrativa
cinematográfica, chegando a dar um pouco de pena saber que o livro não
deve ter muitas chances de ganhar as telonas dos cinemas um dia. Os
personagens são extremamente bem construídos e pelos seus diálogos e
atitudes dá pra sentir realmente a situação que eles estão passando.
A história é sobre um dos temas que mais
fascinam. O levante dos anjos rebeldes contra os anjos das castas mais
elevadas e a futura batalha do Apocalipse. É por isso também que curto
tanto da série Supernatural. Acompanhamos a
história do anjo renegado Ablon, preso a uma forma humana e o
acompanhamos passar por diversas eras da humanidade. Aí vemos a riqueza
de detalhes do livro e o quanto o autor deve ter pesquisado para
escrever este livro, o que não é um um elogio, mas obrigação de qualquer
escritor caso se queira escrever um livro de fantasia com um tema como
este, e períodos históricos tão largos.
A Batalha do Apocalipse
prova que é possível fazer bons livros de fantasia brasileiros. Tomara
que surjam mais e mais livros deste gênero por aqui com a mesma
qualidade dele.
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